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No Canto Da Quadra
Editora: Editora Reformatório
Avaliação:
R$ 35,00 á vista
Em até 4 de 8.75 s/juros
Fora de estoqueCódigo: 9788566887471
Categoria: Contos e Crônicas
Descrição Saiba mais informações
Às vezes eu passo um tempo na Buenas Bookstore. É talvez a menor livraria do mundo, e a mais legal também. Cabem um bom número de livros, cabe o próprio Buenas, com seu notebook, com seu fone de ouvido, ouvindo sua trilha particular ou revendo pela centésima vez o documentário sobre a banda Big Star, cabem talvez mais uns dois bêbados inoportunos, já que a livraria funciona dentro de um bar. E quando passo lá, às vezes, a livraria parece, não sei, algo mais orgânico do que concreto. Há algo interno, invisível nela, que a transforma em uma livraria enorme. Isso porque Buenas construiu, de uma forma muito natural, seu espaço de trabalho como um retrato fiel de seu espírito. A mesma impressão é passada nos textos deste livro. Já no primeiro, vemos que se trata de um livro sobre um homem que deixa muito claro que não procura por nada, e preenche esse nada com músicas, diários de leitura, de hábitos, relatos de lembranças familiares, ou com observações prosaicas sobre sua vida que passa, com garotas que passam, com clientes que passam, com bebidas que vão acabando e, é claro, não acabam nunca. As músicas e toda opinião cultural pelos vários textos constroem uma unidade sentimental e estética que dá força e sensibilidade para a identidade do escritor de crônicas, que, por isso, acaba virando um personagem de novela ao longo do livro. Um personagem capaz de construir uma poesia leve mesmo quando em meio ao caos. Como esse trecho que por pouco não virava um hai kai, "... do que vivemos no intenso outono daquele ano. O inverno foi tenebroso. A primavera, tranquila.", quando comenta um relacionamento. Ou então capaz de absorver o peso do mundo em momentos de aparente tranquilidade, como essa frase "Depois que abri a segunda cerveja e sentei no sofá, fiquei pensando nos jovens que se matam cedo demais", em meio a um texto sobre visitar a mãe. Porque o Buenas é meio que isso mesmo. Um livreiro quieto que de repente encontra uma piada e se diverte, ou encontra uma briga e entra com fúria pra dentro dela, e depois volta, bota os fones de ouvido, e se senta em seu canto, em silêncio, bebericando uma cerveja importada, pensando naquela velha piada, e talvez até abra um sorriso de canto de boca, como se nada de diferente tivesse acontecido, diferente seria ele não voltar pro seu lugar de poder, que é a solidão. Então, como o livro é o Tarcisio, há um monumento forjado para a solidão em cada página. E a maior matéria-prima desse monumento seja talvez o silêncio. E como é um livro, e tem de haver palavras nesse livro para que ele seja um livro, esse silêncio se traduz em frases como as duas primeiras sentenças deste trecho: "Esqueço tudo. Ou quase tudo. O aluguel venceu hoje e não pude pagar. Mandei mensagem pro proprietário de madrugada quando cheguei da livraria. Disse que vou pagar no final da semana. Ele entendeu, pelo visto." Ele está falando sobre o aluguel, sobre a falta de grana, e antes e depois disso está falando sobre músicas também, e tem essas duas frases, que na minha opinião fazem parte do jeito que Buenas encontrou de escrever o silêncio. Prestem atenção, no decorrer do livro, no silêncio. É um livro cheio de rock'n roll, Buenas é tão educado pelo rock'n roll que é o tipo de cara que gostou de Sonic Youth mesmo antes de ouvi-los, e não há nada que fale mais sobre o rock do que isso. E não há nada que fale mais sobre um riff de Keith Richards, por exemplo, do que o silêncio entre uma batida nas cordas e outra. O Buenas encontrou esse silêncio tendo que usar palavras. E como tudo se relaciona, e como o livro é o Buenas, lembro que quando eu passo um tempo na Buenas Bookstore, geralmente conversamos sobre livros ou sobre passarinha frita (uma iguaria espetacular da culinária soteropolitana) e depois entramos no silêncio. É inevitável. Até que o Buenas fala algo impronunciável, e eu pergunto "o quê?", e ele responde "o quê?" e eu pergunto "falou comigo?" e ele responde em bom baianês "ah, eu falo só". E é isso, pô! O Buenas fala só pra dar valor ao silêncio. O Buenas fala só porque entre um silêncio e outro, pro rock'n roll funcionar, alguém tem que dar aquela palhetada nas cordas. Esse livro fala só também. Nem precisava dessa orelha, na real. Esse livro fala só e por si só. Bruno Bandido
Páginas | 136 |
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Data de publicação | 20/11/2018 |
Formato | 14x21 |
Largura | 14 |
Comprimento | 21 |
Lombada | 1.2 |
Altura | 1.2 |
Acabamento | Brochura Com Orelhas |
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Código de Barras | 9788566887471 |
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